O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde
abril 08, 2025, by EmíliaOlá leitores, estão bem? Antes de apresentar o livro, quero lembrar vocês que hoje, dia 09 de abril, comemora-se o Dia Nacional da Biblioteca! Eu frequentei bibliotecas durante toda minha infância, tenho ótimas memórias de quando minha mãe me levava, íamos todas as semanas. Era uma aventura imaginar qual o próximo livro que levaria para casa, assim nasceu meu amor pela leitura. Infelizmente, a biblioteca municipal a qual frequentava fechou pois não deram manutenção, mas nunca vou esquecer das tardes, dos cheiros e da felicidade que sentia todos os dias que a frequentava! Espero que as bibliotecas tenham forças nesse mundo atual para continuarem firmes e que outras pessoas possam aproveitá-las assim como eu aproveitei.
Hoje trago para vocês uma resenha de um clássico cheio de polêmicas que envolvem a história e seu autor. Um livro com muitas camadas, que envolve desde arte e autoconhecimento até entorpecimento e moralidade.
Escolha da edição:
Pesquisei bastante sobre esse livro, de cara podemos ver que é um texto que foi censurado na época de sua publicação, e isso pode resultar em perdas das versões originais e textos mal traduzidos. Para quem quer ter uma experiência completa da obra, indico a versão da Darkside Books. Ela tem um prefácio muito bem escrito de Enéias Tavares, que nos contextualiza com toda a comoção autor/personagem antes de começar a história. Também conta com notas de Luiz Gasparelli Jr. que foi minha parte favorita da edição, as notas mostram referências à vida do autor, mitologia, costumes da época e nos indicam as partes que foram censuradas/cortadas na edição inicial. E não acabou, o livro conta com páginas contendo as críticas publicadas pelas revistas e jornais da época em que o livro foi lançado (juntamente com as contra-respostas do autor), uma seção de poemas de Wilde e alguns retratos. Sem falar que esteticamente, é linda.
Um breve resumo:
A obra se passa na Inglaterra vitoriana no século XIX, quando Basil Hallard, um artista em ascensão, está fazendo um retrato de um belo jovem burguês chamado Dorian Gray, o qual está fascinado e julga ser a obra de sua vida. Basil, apresenta Dorian a seu amigo Lord Henry Wotton, um aristocrata cheio de opiniões. Lord Henry com sua visão hedonista, afirma que a juventude, os prazeres e a beleza são os aspectos mais importantes em nossas vidas. Dorian se vê fascinado e influenciado por essa admiração que seus companheiros expressam, assim como o estilo de vida luxuoso e considera o pior: venderia sua alma em troca da juventude, deixando o seu retrato envelhecer em seu lugar. A partir de então Dorian, sob influência de Lord Henry, começa a viver uma vida libertina, explorando sua sensualidade e cada vez mais obcecado por sua juventude e beleza, o que o leva a esquecer o impacto moral de suas ações. Seu desejo se realiza, e seu retrato trancado em um quarto passa a refletir uma imagem horrível, o reflexo de sua alma corrompida.
A polêmica por trás do livro:
O livro foi publicado como novela em 1890 e essa primeira versão teve cortes bruscos de mais de 500 palavras que remetiam à homossexualidade. Já em 1891, como romance, Wilde incluiu em sua obra um prefácio onde defendeu as intenções de seu romance e rebateu críticas. Isto ofendeu a moral dos críticos britânicos que acabaram por acusar Wilde de violar as leis que regem a moralidade pública. De acordo com os mesmos, os jovens que entrassem em contato com a leitura teriam suas mentes manchadas por influências à homossexualidade, definindo o livro como impuro, mal, efeminado e venenoso.
Wilde também foi diretamente acusado, pois via-se muita semelhança entre ele e seu personagem. Mesmo casado e com filhos, parecia ser Dorian Gray um alter ego de Wilde. Wilde andava frequentemente em companhias masculinas mais jovens (o qual assumia que trocavam presentes) e perambulava por bares e locais frequentados por pessoas homoafetivas naquela época. Em sua obra, é possível ver dezenas de referências que comprovam isso.
"O tom verde-oliva, no período vitoriano, era frequentemente associado à homossexualidade. Por exemplo, uma flor de cravo tingida de verde na lapela era um código para identificar seu portador como homossexual. Oscar Wilde era recorrentemente visto com uma flor dessa tonalidade."
Quando publicada esta obra, Wilde já era conhecido por suas peças e poemas, e o choque na sociedade foi grande. O pai de um poeta com o qual Wilde manteve um relacionamento acabou o denunciando por manter relações sexuais homoafetivas, o que na época era crime na Inglaterra e foi a gota d'água. Wilde foi preso em 1895 após julgamento, onde frases do seu livro foram lidas em voz alta. Realizou na prisão trabalho forçado e lá adquiriu muitas condições e doenças. Foi libertado após dois anos, em 1987, mas nunca foi o mesmo. Passou a morar em locais precários e não conseguiu escrever mais nada de relevante, porém não deixava de apoiar "o amor que não ousa dizer seu nome". Wilde morreu em 1900 após um ataque de meningite agravada pelo álcool e pela sífilis.
Minha leitura:
Dorian Gray foi uma grande aventura, pois aborda muitos temas ao mesmo tempo: a inocência, a manipulação, a imortalidade, o reflexo de suas ações em sua alma, a mitologia de Narciso e Adonis, a crítica embutida a era vitoriana preconceituosa da época, a referências como Shakespeare e Fausto. Tudo sobre Dorian Gray foi calculado por Wilde, a forma como ele muda o foco narrativo durante a obra, as referências que traz nas entrelinhas e a forma que descreve sobre assuntos tão delicados. A minha leitura foi interrompida por um tempo por uma perda familiar, mas quando retomei senti que não havia perdido e esquecido nada da história.
Como sempre, fazendo minha pesquisa de campo, percebi que muitos leitores acham a leitura bem descritiva e monótona. Eu, não percebi, achei uma leitura muito rápida e simples. A história em si é breve, o que demora é se aprofundar nessa jornada. A edição da Darkside me ajudou muito, pois julgo que se fosse ler um livro dessa magnitude sem as notas e todos os anexos, perderia muita informação sobre a obra. Sou a favor dos textos complementares, nem sempre conseguimos captar tudo que o autor tem a dizer.
Este livro é especial pois nos faz ver o outro lado, o de quem escreve. Wilde colocou em sua obra um pouco de si e de seu sofrimento, se identificou como um personagem pois na época era o que estava em seu alcance, como podia se expressar. Wilde também mostrou coragem ao publicar esta obra que era ousada para a época. Agora cabe a nós, leitores do século atual, mudar a estética imposta no livro e não o tratar como um livro proibido e conturbado, e sim como uma obra de um homem inteligente, astuto, talentoso, à frente de seu tempo e com ânsia de liberdade.
21 comentários
Olá, Emília, tudo bem?
ResponderExcluirObrigado pela visita ao meu "Crônicas".
Está começando agora com o blog? Que bom, blogues literários são sempre bem-vindos. Li O Retrato de Dorian Gray há muito tempo mas lembro bem do mote da história. Na edição que li certamente não tinha essas notas como essa edição que você apresenta, elas são boas para contextualizar o texto e o autor.
Um abraço.
Olá Eduardo, obrigada pelo comentário! Já tive muitos blogs no decorrer dos anos, sempre gostei de escrever, porém com a correria acabei desistindo. Agora que estou estável novamente, voltei com meu hobbie! Sobre o livro, as notas da edição são ótimas, sinto que aproveitei bem mais a leitura. Vale a pena conferir! Abraços!
ExcluirUau que blogue interessante
ResponderExcluirGostei muito
Olá, obrigada pelo elogio! Fico feliz que tenha gostado, seja sempre bem-vindo!
ExcluirEssa edição parece estar impecável! Eu não li o livro ainda, mas tenho muita curiosidade com ele, acho que pode ser uma experiência bem interessante.
ResponderExcluirhttp://vocedebemcomaleitura.blogspot.com/
É uma edição linda e bem completa. Por exemplo, toda a informação desse post foi retirada do livro, nem precisa de pesquisar pois ele te entrega tudo. Quanto a leitura, você vai amar, um grande clássico! Obrigada pela visita!
ExcluirEmília, que resenha extraordinária! 👏🏼 Você não apenas nos apresentou O Retrato de Dorian Gray, como também nos levou por uma verdadeira viagem pela alma de Wilde — e pela sua também. A forma como entrelaçou memória afetiva, contexto histórico e análise literária é algo raro de se ver!
ResponderExcluirSeu relato sobre a infância nas bibliotecas já dá o tom de quem lê com o coração e entende que livros não são apenas histórias, mas portais. E ao falar de Wilde com tanta profundidade, respeito e sensibilidade, você também honra a liberdade criativa, o direito de existir e amar como se é — algo que ainda hoje muitos têm dificuldade em aceitar.
Adorei cada detalhe: desde a crítica à estética da censura até o reconhecimento da coragem do autor. Que bom seria se toda leitura fosse acompanhada de um olhar tão atento e generoso como o seu. Que venham mais resenhas suas para nos lembrar que literatura é resistência, é arte, é vida!
Um grande abraço com cheiro de livro novo (ou velho, mas cheio de histórias),
Daniel
Olá, obrigada pelo comentário! Fico feliz que gostou da postagem, sempre escrevo com carinho (mesmo sem ter muito tempo) e fiquei muito feliz com seus elogios! E você tem razão, quem nasceu com os livros sabe senti-los e apreciá-los como ninguém. Gratidão!
ExcluirOi Emília! Eu amei a sua resenha! Tenho muita curiosidade em ler esse livro e sempre me peguei nessa dúvida sobre a edição, com certeza vou levar a sua opinião em consideração. Sobre visitar bibliotecas na infância, me bateu uma super nostalgia. Eu tive muita sorte por ser uma criança incentivada a ler, tanto em casa por uma mãe que odiava ler (mas achava importante) e nas escolas. Lembro de uma época onde os últimos 30 minutos de aula no ensino fundamental eram dedicados à leitura, a professora pegava uma caixa com livros e cada aluno escolhia um para ler. Foram vários intervalos na escola passados entre livros nas bibliotecas. É uma pena o sucateamento das bibliotecas públicas.
ResponderExcluirGarota do 330
Olá Vaneza, que bom te ver aqui! Essa edição está muito especial, adoro os livros da editora por isso. Quanto as bibliotecas, hoje só fica a saudade, na época da escola também vivia na biblioteca, ficávamos ansiosos para ver qual livro íamos levar para casa. Hoje em dia isso se perdeu, ainda mais com os celulares. Cada dia está mais difícil de acessar um livro (falta de bibliotecas públicas, preços altos, desinteresse). Nos resta ser as influências para as próximas gerações. Um beijo!
ExcluirUm dos maiores escritores da língua inglesa
ResponderExcluirOlá! Com toda certeza, bem a frente de seu tempo!
ExcluirEita, que resenha! Que comentários! Que profundidade! Maravilha, Emília! É um guia e tanto para se entender a complexidade do livro.
ResponderExcluirOi Ana, obrigada pelo comentário, fico feliz que tenha gostado! Um beijo!
ExcluirOi Emília! Que postagem legal! Adorei! Li o romance em 2022. Também gostei da obra. Seu blog e suas postagens são muito bons e cuidadosos, respeitam as leitoras e leitores. Parabéns e vida longa ao Fina Literatura!
ResponderExcluirOi William, essa é uma daquelas "leituras obrigatórias" pra quem gosta de literatura, um baita clássico! Fico feliz de saber que gosta das postagens, obrigada pelo carinho!
ExcluirOi Emília, tudo bem?
ResponderExcluirConheço o personagem por causa de adaptações, mas nunca parei para ler o livro. A Darkside Books publica edições lindas. Gostei da resenha!!
*bye*
Marla
https://loucaporromances.blogspot.com/
Olá Marla, obrigada pelo comentário! A Darkside capricha muito nas edições, pra quem coleciona é um ótimo investimento comprar os livros da editora. Volte sempre!
ExcluirOie, tudo bem?
ResponderExcluirAqui é a Thayane (Thay ou Ane, para os mais chegados), sou nova por aqui e já estou seguindo porque pelo pouco que vi já amei seu blog!
Ainda vou tirar um tempo mais longo para ler outras publicações suas, inclusive espero que você não me ache chata se eu comentar em postagens mais antigas haha. Enfim…
Eu nunca li esse livro, mas é um dos meus desejados. Tenho muita curiosidade justamente porque sei um pouquinho da história do Wilde previamente, mas não li nada dele ainda. Essa edição, além de linda, me chamou a atenção porque gosto quando a editora proporciona essa imersão de não só traduzir a obra, mas também explicar o contexto histórico e como isso se entrelaça ao autor, acho essa ideia riquíssima que trás um envolvimento maior entre a obra e o leitor (sei lá, pelo menos eu tenho mais apego ao livro quando conheço o conteúdo, seu autor e o contexto em que foi escrito), é um plus muito excelente quando tem isso na edição. Vou guardar sua dica para adquirir essa então!
P.s: puxa, eu nunca tive um contato muito grande com bibliotecas. Acho que só pisei duas vezes em uma. Realmente deveria haver mais incentivo a elas, principalmente quando somos crianças e estamos construindo memórias valiosas para manter pelo resto da vida. Eu, por exemplo, só construí o habito de ler porque minha mãe, durante a minha infância, me arrastava para livrarias e feiras literárias, daí passei a querer adquirir livros também assim com ela. Possivelmente, se eu tivesse sido introduzida a bibliotecas, iria amar também (mas, infelizmente, não tinha/e continua não tendo, nenhuma por perto de onde moro).
Até a próxima,
Entulhando Ideias
Olá Thayane, tudo bem e você? Fiquei muito feliz com seu comentário, e não se preocupe, sinta-se em casa e não tenha pressa! Justamente, para quem gosta de se aprofundar a edição está bem legal, já vi outras com notas de rodapé mas nada tão profundo como esses textos de apoio da Darkside. Se eu fosse mostrar tudo nem caberia na postagem! Eu indico sem pensar duas vezes.
ExcluirAcredito que a maioria da influência à leitura vem dos pais, e a biblioteca nessa hora ajuda muito, principalmente pra quem não tem condições financeiras (o que era meu caso na época) porque os livros andam bem carinhos. Hoje em dia pelo menos temos a internet como aliada para conseguirmos acessar com mais facilidade os livros, acredito que as bibliotecas físicas vão sumir aos poucos e dar espaço as digitais, o importante é sempre ler! Obrigada pela visita!
Oi Emília, tudo bem?
ResponderExcluirComo o mundo seria melhor se existisse mais bibliotecas e se elas recebessem a atenção que merecem. Uma pena não ser assim.
Muito linda e completa essa edição da DarkSide! Eu já conheço a história através de um filme, mas nem se compara a ler a obra original, ainda mais tão contextualizada. Gostei muito da sua resenha! E já estou seguindo seu blog!
Até breve;
Helaina (Escritora || Blogueira)
https://hipercriativa.blogspot.com (Livros, filmes e séries)
https://universo-invisivel.blogspot.com (Contos, crônicas e afins)